Se você não segue o sistema, te chamam de "sistemático".

quinta-feira, 18 de abril de 2024

A Cor Amiga

 


Atrás de um bosque de choupos,
construí pitoresca choupana
(num isolamento absoluto).

Mas o cúmulo do absurdo,
eu ouvira da densa nuvem vermelha
a serpejar nas grimpas da serra,
onde o gafanhoto e o condor voam:

"Sussurros!
  Sussurros!"

Escapou-me um urro
como o  de um
cãozinho atropelado.
Silêncio! (clamei)

E logo disse a rolinha
ao vento insano:
"É fogo de amor!
É fogo de amor!"

Ai! Como eu chorei!
Até os pequeninos da mata
em suas conferências
zoam com a minha dor.


.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Outra Forma de Amar

 


Também tiram-me
o céu de sob os pés...
pois bem; fingirei calar-me.

Que ilusão!
Vou mergulhar
na opulência
das cores e pintar.

Pintar e pintar,
com a devoção
que se deve amar!
Ai meu Deus!
Como eu desejo
somente pintar!

Ocultar-me-ei
no branco da calla
e das camélias,
vou exaltar os
cachos de jacinto
de todas as cores,
como se um tapete
de prímulas
ou balsaminas
eu pintasse.

Quero sentir
a força do amarelo
do girassol e
do amarílis
e também
a profusão
do amor perfeito.

Vou emoldurar com a bardana
as mechas das lavandas
e as névoas de oleandros,
e hei de definir as pinceladas
verticais com a
personalidade do delfínio.

Próximo das flores
azuis vou mesclar o
violeta do limonium
e das  lobélias,
talvez salpicado
com pontos de miosótis
e ranhuras de rosmaninho.

Vou ferir tal degradê
com tufos do vermelho
da poinsétia,
sim eu juro que
o farei, com
a luxúria  da espátula.

Contudo,
depois de embriagar-me
com o cheiro do nardo;
das rosas e papoulas,
pintarei o seu retrato
com um mágico olhar.

Para consolidar o fundo,
vou cravar a consólida
entre cravos e cravinas
diluídas com
óleo e terebentina.

Acometido por
derradeiros delírios,
finalizo a tela com
borrões de lírios e heras;

e urge por
acónitos, com
um toque de urze
entre as folhagens
numa repentina
sempre-viva
vontade de te amar.


.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Cardos Cansados



Sofro do mal 
do amor inexistente,
e falo com
as paredes
em dias quentes.

Sofro do mal,
do par que som
romântico ouvindo,
desfalece na rede
chorando ou rindo.

Faço libações
ao "Shiva-lingam",
esperando não
mais sofrer do
mal do parque lindo,

onde sento-me
num banco de madeira
a esperar a imagem
do par que some,
do amor que sonho a tarde inteira
e me consome.

Após, vou indo
com o que me resta:
pintar um retrato
de cabeceira.

Sofro então ao
escolher mal a cor
daqueles olhos de pássaro e digo:
"Ah! já sei!
 a cor é esta!"

E decido pintá-los,
na cor do cardo malvado,
cujos espinhos
me entressacharam.


.

domingo, 14 de abril de 2024

Equlíbrio

 



Pode a carpa 
respirar todo o tempo
o mercúrio da distância(?)

Se busco a cabeceira
é porque desejo
reproduzir meus versos

Não que eu esteja
a te buscar cachoeira acima

Sei que pra te encontrar
basta boiar
entregar-me
porque tu és a grandeza
do interno mar

E não te culpo pela
descrença sobre o
destino do rio
que arrasta-me

Deus sabe que sou
alucinado pelo mar
porque seu verdor
lembra as montanhas
de nossa infância

E quem te disse
que ela se fora (?)

Que tu pares de ouvir
conselhos sonsos (!)

Uma lagoa azul nos espera
virgem
imaculada (!)

E um dia riremos tanto
ao nadarmos nus
nas águas destas
lágrimas tuas vãs (...)

que  os nossos poemas
converter-se-ão
em salmos de gratidão
sem rimas

àquEle que vela
pelas nossas almas (:)
(havidas por infames)
dois salmões
que brincam de pegar
quando eu não
singro rio acima


.

sábado, 13 de abril de 2024

Apostasia

 


A lua que você vê

dum ângulo,
desnuda,
vejo-a daqui.

Pela infixidez da vida:
lixão do
amanhã.

Abstraído e longe Dali
o subsolo
salvador convida:

Uma rolha
gigante pro
fumo do
piróscafo,
calda de losna
no ar do
escafandrista...

Ah! 
lembrar de
catar o robe preto...

tingir... sim tinja
 (com cobre) o
"chanel de bico;"

traga vocábulos
azinhavrados,
a sanha dos
taciturnos e
se der, rubrica
a tela "o grito".

Eu e nós dois
falsamente sepultados.
Eis o endereço
dos alumbrados
e apóstatas":

rua conciliábulo,
sem número;
bairro dos
desobrigados;
Limbo.



.


sexta-feira, 12 de abril de 2024

O Sono Esperado

 


Já li e ouvi poetas tão
raros, que escrevem
quadras sem palavras
naturalmente tocando o meu corpo
álgido e violáceo,
como se toda a
apocalíptica sobre
a vida fosse fácil de se ler 

E como saberei
se a manifestação
fora da flora ou dos faunos,
se nem sempre posso
entender
a voz da surdez
cruel das pedras?

É  sob manto da morte,
cosido de peles cortadas,
(sobejos de medos descarnados)
que eu me conglobo nas escarpas 
um pouco torto ou meio de lado

Rasgo o solo e digo
nem o licoroso orvalho
das uvas no auge de seu frescor
é tão brando e gentil 
quanto o sono que me espera nos prados!



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quinta-feira, 11 de abril de 2024

O Sonho de Sophia

 


Sinto Sombras!
Só serei sábio e sóbrio
se  sentir seu
semblante .

Sinto
só solidão,
somente secreto
sofrimento
sem seus sonetos, suaves solfejos,
sem o som das sonatas na sitar!

Sim Sophia!
Sério! sei soletrar
seu sobrenome e sua sina.

Sofreguidão... suores
e sempre sobredose
de silêncio ou síncope...

será "síndrome Stendhal",
se solitário sinto somente
sede de seu sorriso sereno?

A sagrada simetria
de sua sensibilidade...
é simplesmente sabedoria
se eu sonho o seu sonho sublime,
Sim! sempre será o suprassumo!



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